A cena era a seguinte: Era dia, mas não tinha sol. Creio que era de tarde. Um eu onírico no corpo de uma outra mulher, e minha irmã, também no corpo de uma outra mulher. Mas eu sabia que éramos nós duas ali, vestidas com roupas medievais. Saia comprida, a minha era azul céu, a dela, não me recordo ou não cheguei a ver. Corpete e um blusa por baixo. Cabelos meio presos meio soltos. Estávamos em volta de uma fogueira e eu imaginei fazíamos alguma espécie de ritual.
Porém, fui jogada dentro desta cena como uma espectadora que via a coisa se desenrolar do alto, como se estivesse no topo de algum lugar ou mesmo voando.
O sonho começou no momento em que as duas pararam, e assustadas, voltaram-se para trás na direção de uma colina de onde pessoas desciam correndo e gritando na direção delas.
As duas se puseram a correr.
Acho que eu, espectadora, estava voando, pois continuei acompanhando a cena do alto.
Logo foram alcançadas. Mas lutaram bravamente com 5 ou 6 homens, seus perseguidores, que a rodeavam. Aconteceu muito rápido, e então eu já estava ao lado das duas, vendo que elas venceram e decapitaram os inimigos.
Foi quando passei a participar no corpo daquele eu onírico.
Eu e minha irmã voltamos a correr, largando os mortos para trás.
Mergulhamos sem receio em um lugar alagado. Era uma espécie de garagem, formada por vigas e com teto de palha. Tinha, um trator pequeno, ferramentas, máquinas, equipamentos, mas tudo coberto de água até a metade. E não dava pé para nós.
Neste momento, o mundo ficou cinza, como se fosse uma manhã de inverno. Tudo em volta, inclusive nós, tínhamos uma tonalidade cinza azulada.
E foi nesta água que encontramos nossos pais. Ficamos ali de papo.
Os mortos apareceram do ponto seco, atrás da garagem. Carregando suas cabeças como se carregassem pacotes. Eles se lançaram na água.
Nadamos.
Batemos os braços e as pernas desesperados em direção a uma cabana, poucos metros a frente. Vez por outra, tivemos que parar para ajudar nossos pais, com dificuldades na natação. Mas enfim chegamos na tal cabana.
Aqui, o negócio ficou esquisito. Como se eu acordasse e voltasse a dormir, retomando o sonho, a cena se repetiu a partir deste ponto algumas vezes. Uma espécie de efeito borboleta. Mas tenho certeza de que em nenhum momento eu acordei.
A primeira coisa que me passou pela cabeça assim que pisei na cabana, foi que precisava levar o meu filho que dormia o sono dos inocentes em uma cama ali dentro.
Criança no colo, tomei o rumo da porta e coloquei o menino no banco de trás de um 4x4. Mas meus pais quiseram tirar a roupa molhada. E os mortos chegaram na cabana.
A cena voltou, antes que eu visse o desfecho.
Chegamos na cabana, falei que precisava pegar meu filho. Mas eu e minha irmã concordamos que tirar as roupas molhadas ficaria mais confortável. Olhamos pela janela. Os mortos ainda lutavam na água para nadar e segurar a cabeça em local seco. Trocamos de roupa. Coloquei meu filho do banco de trás do 4x4...e minha mãe quis juntar algumas coisas para levar. Eu e minha irmã começamos a discutir com ela.
A cena voltou.
Chegamos na cabana, peguei meu filho. Trocamos de roupa e vestimos uma espécie de camisola branca comprida. Mas seca. Coloquei o pequeno, que incrivelmente continuava dormindo, no banco de trás do 4x4. Minha mãe não conseguiu subir no carro. Os mortos apareceram na porta da cabana.
A cena voltou.
Chegamos na cabana. Peguei meu filho. Vestimos a camisola. Criança no banco de trás. Eu e minha irmã ajudamos minha mãe a subir no carro sob a supervisão do meu pai, enquanto gritávamos que ele entrasse logo pelo outro lado. Os mortos chegaram na porta da cabana. Minha irmã terminou de colocar minha mãe no carro enquanto eu dei a volta e assumi o lugar do motorista. Assim que minha irmã sentou ao meu lado, e mesmo antes de ela fechar a porta, eu arranquei com o carro, levantando poeira da estrada.
Aqui, era de manhã e com sol forte o suficiente para pintar tudo de amarelo.
Acordei finalmente.